quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A Revolta de Ephialtes (Parte 1)

Propostas de "acolhimento"  das minorias promovem desmantelamento da ordem social



Na sua obra máxima, Ayn Rand propôs a Revolta de Atlas. No livro, os indivíduos mais brilhantes e capazes da sociedade retiravam-se dos países socialistas para privá-los do seu talento, pois deram-se conta de que tais regimes apenas subsistiam ao alimentar-se deles. No Brasil de hoje, porém, é possível perceber um outro tipo de fenômeno: "A Revolta de Ephialtes".


Segundo a História, o exército espartano resistia bravamente à invasão dos persas nas Termópilas. Apesar de estarem em grande desvantagem numérica, os espartanos formaram uma poderosa resistência, pelo fato de serem os mais formidáveis guerreiros da antiguidade. Todavia, o exército grego acabou manifestando uma desvantagem: devido aos altos padrões exigidos para um guerreiro ingressar no exército espartano, Ephialtes, basicamente um deficiente físico, havia sido rejeitado pelo general Leônidas, porque não conseguia erguer o escudo de modo a compor a poderosa falange grega. Coxo de uma perna e com uma corcunda nas costas, Ephialtes era o avesso do que deveria ser um soldado grego. Mas tomado pelo orgulho de tornar-se um grande guerreiro, ele rejeita desempenhar os papéis menores oferecidos por Leônidas, de ajudar os feridos no combate, e decide vingar-se. O desapontando guerreiro revela a Xerxes, o rei persa, uma passagem secreta pelo desfiladeiro, que permite aos persas atacá-los pela retaguarda e derrotá-los facilmente.

Toda sociedade possui seus Ephialtes, seres que, por algum motivo e independentemente de culpa, não se encaixam nos padrões da sociedade, tal como ela foi desenhada. No Brasil de hoje, podemos pensar em vários grupos sociais e minorias que ocuparam esse lugar. Inicialmente, os gays, negros, e mulheres, mas também os camelôs, os imigrantes, os banidos da ditadura, toda sorte de ilegalidades. Enfim, qualquer grupo de pessoas para o qual as classes altas desviam o seu olhar; toda feiura e deformidade olhada de cima pelo poder público apenas como um "país que não deu certo". De certa forma, essa atitude desperta sempre algum nível de crítica da classe artística em algumas canções, como a de Adriana Calcanhotto, em Bom Gosto.


Mas apesar de ser possível conceber papéis que possam ser desempenhados por eles em sua simplicidade, há sempre a possibilidade de neles encontrar a resistência e pretensão de alcançar uma glória para a qual não foram destinados. Eles despertam nossa simpatia pelo seu sofrimento não merecido; nossa piedade pelas doçuras da vida de que não poderão usufruir; nossa esperança romântica e simplória de que eles possam um dia alcançar aquilo que almejam, se forem bons o bastante. Disfarçamos para nós que ali não habita nada de uma vaidade secreta de quem não aceitará mais qualquer papel coadjuvante na história, mas somente o de protagonista...

Até certo ponto, a existência de tais grupos pode ser considerada um subproduto natural e involuntário dos sistemas sociais e econômicos vigentes; simplesmente porque nenhum serviço público conseguiria incluir a todos. São aqueles a quem a sociedade não consegue abraçar, não por que não queira, mas porque seus braços não são grandes o bastante. Esse desafio é ainda maior em um país como o Brasil que, além da extensão territorial, possui um legado histórico complexo e pesaroso, com uma ampla diversidade cultural para dar conta. Para uma certa parcela da população, esses braços "deveriam" ser grandes o bastante, surgindo assim as temerárias comparações entre o Brasil e estados europeus muito menores e diferentes de nós. De acordo com o filósofo Luís Felipe Pondé, esse é o pensamento que, em resumo dita  que "o mundo todo bem que poderia ser como a Dinamarca...".
Pondé: para a Europa moderna, o Estado deveria acolher a todos.

Isso, enfim, foi tentado com a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores. Com a ascensão do PT, o partido se aproximou dessas classes para lhes oferecer algo que até então não possuíam: uma narrativa. Mas não qualquer narrativa, e sim aquela que eles desejavam; uma que os colocava, aparentemente, no centro do mundo; um mundo que, até então, somente haviam habitado perifericamente, vagado por suas sombras, na pele das prostitutas nos arredores das cidades, dos gays expulsos de casa, dos pobres, famintos e miseráveis. O PT acolheu esses mal-amados da história e, sob a sua orientação, lhes foi contada uma história diferente daquela dos "braços curtos do estado". Segundo a nova ótica, seu baixo status era o produto intencional e planejado das classes superiores, que os odeiam. Com as sofisticadas técnicas discursivas e ideológicas do gramscismo, o PT insuflou seu ressentimento contra o restante da ordem social; aprenderam o quanto foram propositalmente negligenciados; como "O Sistema" foi criado para excluí-los, como a mais-valia roubou-lhes os salários, como o patriarcado usurpou sua posição, como uma cultura arbitrária lhes impôs padrões rígidos e limitados de comportamento sexual.  Assim foi criada a percepção de uma realidade alternativa, uma realidade das coisas como poderiam (ou até deveriam) ter sido; uma realidade ainda por ser fabricada.

No afã de conseguir um apoio político sólido e apaixonado, nossos socialistas tupiniquins lograram reunir aos poucos toda sorte de deformados, dando voz e projeção a suas queixas, adulando seus caprichos, inflando seus egos com lisonjas; de modo que o tempo os fez acreditar serem mais importantes, poderosos e indispensáveis do que realmente são. E, de fato, o seu volume e barulho quase os fez assim. O PT acalantou seus delírios de grandeza e os transformou em alguém.
Nesse processo, esses grupos aprenderam a se organizar e formaram bancadas no congresso. Na sua mentalidade e no discurso dos partidos, suas causas tinham a finalidade mais nobre de todas. Seriam eles os heróis que iriam corrigir as injustiças do mundo, trazendo de volta o equilíbrio, rompido à força, pelos seus antípodas (os ricos, brancos, héteros, bem formados e bem nascidos) devolvendo assim a paz à sociedade. Foi aí então que começou o show de horrores...





Com ascensão dos "minoritários", acabou ocorrendo uma exposição do seu modo também deformado de pensar e ver o mundo, deixando à mostra as barbaridades dos seus gostos e preferências, bem como de suas diferentes concepções da sociedade. E esta, foi surpreendida de repente por uma uma enxurrada de beijos gays na televisão, crianças tocando homens nus em museus, a escatologia humana agora promovida ao sublime status de protesto; exposições de nudez, nudez e mais nudez, etc.

Se por um lado todos podemos concordar em dar assistência individualizada a algumas minorias, atendendo demandas ambientais, instalando rampas para deficientes nos prédios, ou mesmo outras demandas mais dispendiosas mas perfeitamente compatíveis com os valores gerais, o que fazer quando essa assistência especial começa a ameaçar outras prioridades? Por exemplo, o que fazer quando a lei de cotas fere os princípios de meritocracia? Quando o que antes era apenas assassinato, agora pode ser feminicídio (L3104/15), LGBTcídio (PL 7292/17) e o que mais possa vir depois? E quando se deseja que os homossexuais possam doar sangue após terem tido relações no intervalo de 12 meses, sabendo que isso atropela constatações científicas da Organização Mundial da Saúde, que constatam nisso um maior risco de contaminação pelo HIV (PDC 422/2016)? E quando se deseja que o SUS ofereça cirurgias para mudanças de sexo e tratamentos hormonais para transexuais, quando faltam recursos para pacientes com câncer (PL 5002/2013)? E quando é preciso uma lei específica para que as igrejas possam se recusar a realizar casamentos entre homossexuais (PL 1411/11) garantindo sua liberdade de consciência e de crença? Legalização do aborto e da maconha são outras preocupações que têm assombrado os brasileiros nos últimos tempos. E mesmo a pedofilia começa aos poucos a enviar seus acenos, nos recônditos desse mundo flexibilizado...

É importante entender que ninguém é contra a conquista de direitos pelas minorias. São relevantes as conquistas sociais do casamento homossexual, a lei Maria da Penha (as mulheres não são uma minoria propriamente dita, mas faltavam adaptações para melhor acolher suas problemáticas) dentre várias outras. Todavia, muitos projetos têm horrorizado a população por seu caráter autoritário, antidemocrático, ameaçador de liberdades privadas ou por sua falta de bom senso para com outras prioridades.

Essa é a Revolta de Ephialtes, o esforço de engenharia social para materializar um mundo, tal como ele seria se construído pelos defeituosos da sociedade. Distorcido na estética, na ética, nas instituições sociais... mas perfeito para eles. E se o partido que se propõe a torná-lo realidade é não apenas corrupto, mas também terrorista e totalitário, eles mesmo assim o apoiarão, pois estão dispostos a arrasar todo o resto para concretizar sua utopia.



sexta-feira, 21 de setembro de 2018

A campanha #EleNão e o Ressentimento


A moral da autonegação

Todos temos visto a campanha #elenão, aparentemente iniciada pela esquerda, ou pelas (assim chamadas) feministas. Mas antes de meditar sobre o "ele", ao qual o texto faz referência, convém perguntar: ao que as feministas diriam “sim”? A princípio, supostamente haveria um 'algo', capaz de atrair sua preferência: um Lula, uma Dilma, uma ideologia de esquerda, qualquer outra opção que agora esteja fora de alcance.
A campanha #elenão sugere, em parte, um certo conformismo. O conformismo de quem sabe que aquele objeto ideal que desejava não poderá mais ser alcançado. Que alguma coisa diferente pode, e provavelmente virá em seu lugar.
Por outro lado, esse é um conformismo que encontrou o seu limite. Diante desta circunstância, ele nos diz que tudo o mais é aceitável,  todo o resto pode suportar, menos o... "ele". Mas quem é "ele"? Há por detrás do #elenão uma inquietação presente, uma relutância, um sentimento de pavor, diante de algo que não deseja nomear. Esse objeto pavoroso nada mais é do que o reconhecimento de um antagonismo máximo.
A campanha #elenão é o sentimento de quem reconhece no que se aproxima a afirmação do seu oposto. Porque se tudo o mais é aceitável, menos “Ele”, é porque "nele" se reconhece a realização do seu antípoda. Numa palavra: "nele" se reconhece a forma da morte; não concretamente, não fisicamente. Trata-se aqui da realização da morte conceitual e simbólica. É o sentimento de que se chegou à última fronteira. 
E uma vez que a esquerda não possui mais nada que possa afirmar, nada a que possa dizer 'sim', resta somente aquilo que ela pode negar. A campanha reflete aquilo que Nietzsche chamou de "princípio reativo".
Para Nietzsche, a moral de um povo (ou de parte dele) pode ser regida por dois tipos de princípios: o princípio ativo e o reativo. O princípio ativo parte de uma espécie de força, uma certeza interna, um autoconhecimento que permite identificar suas virtudes e afirmá-las corajosamente diante do mundo exterior. É um impulso que parte de dentro pra fora. Por isso é enfrentamento, combate, afirmação, potência.
Já o princípio reativo não possui esse “olhar para dentro de si mesmo” como causa motora. Trata-se primeiro de um “olhar para fora”, para o outro, para aquilo de que não gosta no outro. Para esse “olhar para fora”, ele diz o seu “não”, e somente a partir do outro ele reconhece e toma contato com a sua individualidade. No princípio reativo não há afirmação de uma certeza interna, apenas a negação do outro. Por isso, nada almeja construir, pois nele não há uma potência a se realizar. Nada almeja alcançar, pois objetivos e sonhos são para aqueles que reconhecem em si mesmos a sua própria potência. Apenas almeja desfavorecer o outro, destruir aquilo que considera uma ameaça. Por isso tais indivíduos já embarcam na sociedade em conflito; não o conflito saudável, do contraponto, transformador, mas o conflito da fraqueza, porque oriundo do ressentimento.
E o ressentimento tem sido a tônica dos governos de esquerda até aqui, pois somente dominados por ele, e dominando outros através dele, pôde promover a divisão da sociedade que temos observado nos últimos tempos: conceitos como dívida histórica (ressentimento de raça), machismo x feminismo (ressentimento entre os sexos), elites x pobres (ressentimentos entre as classes sociais). O Ressentimento tem sido, a um só tempo, uma descarga de afetos reprimidos e estratégia de dominação, separando na verdade a sociedade em dois grupos: o dos culpados e o dos ressentidos.
A campanha #elenão é o último suspiro de desolação dos ressentidos que estão agora desamparados; não há mais partido que possa abraçar suas causas revanchistas, nenhuma narrativa confirma agora seu vitimismo. A campanha #elenão é o autoabandono dos Ressentidos Históricos, os mesmos que precisam da anuência das suas vítimas (os devedores históricos), para poderem realizar a estranha proeza de oprimir ao vitimizar-se; os proponentes das ideias de "dívida histórica", para assim poderem se tornar os "credores históricos".
Ao fim, o #elenão imita o mesmo comportamento da Esfinge, na peça grega Édipo Rei. Ao ter o seu enigma resolvido por Édipo, nada mais lhe resta, a não ser lançar-se no abismo. A esquerda e seus defensores tiveram, enfim, todos os seus enigmas desvendados, todas as máscaras removidas, e os atos ocultos, revelados. Agora lhes resta lançar-se no abismo, como toda boa morte típica de vilões em filmes de terror, gritando "nããããão...". Ou melhor, gritando "#elenããããão..."




domingo, 8 de abril de 2018

Lula e as cinco fases do luto

Impasse com a militância petista foi superado pelas técnicas de negociação



Desde a sexta-feira, o país acompanhou ansioso o cumprimento do mandado de prisão do ex-presidente Lula pela Polícia Federal. Causaram aflição, e certamente indignação, as manobras utilizadas por ele para resistir à justiça. Ao invés de voar direto para Curitiba e atender aos termos propostos pelo juiz Sérgio Moro, Lula seguiu para a sede do sindicato dos metalúrgicos de São Paulo, onde rapidamente avolumou-se o número de partidários, prontos para dificultar a ação de qualquer um que aparecesse para tentar prendê-lo. 

Criou-se (ou melhor, o Lula criou) uma situação delicada: uma vez instalado ali, não haveria modo de a polícia entrar e, na verdade, nem como ele próprio sair de livre e espontânea vontade para cumprir a ordem judicial sem o uso da força. Qualquer tentativa de invasão, certamente resultaria em caos. O que fazer? Comentarias falavam no uso de gás lacrimogêneo, sprays de pimenta, balas de borracha, jatos d'água, etc, enquanto dentro do seu bunker Lula era dissuadido por seus advogados do que certamente deve ter sido a sua (tola) ideia inicial de resistir à prisão. O relógio corria até expirar o prazo para sua apresentação voluntária.

Logo, jornalistas e espectadores país afora apressaram-se em criticar o trabalho da Polícia Federal. "Onde já se viu, um criminoso já condenado escolher a hora da sua prisão? Que país sem autoridade! Incompetência!". Lula ridicularizava as instituições do país e punha em risco a segurança dos seus próprios seguidores. A negociação entre sua defesa e a polícia lhe deu ainda a regalia de participar de uma missa no dia seguinte, e ainda de discursar para seus sectários. Acusou-se novamente a polícia de desorganização, amadorismo, de falta de planejamento, etc. Mas será que foi isso mesmo?

Analisando o cenário em que o petista se meteu, percebemos que a saída iria requerer o uso de um pouco de psicologia. E à medida que os acontecimentos se desenvolviam, lembrei de uma teoria chamada As 5 fases do Luto, da psiquiatra americana Elisabeth Kubler-Ross. Seu modelo foi elaborado a partir da identificação das reações psíquicas básicas de pacientes em estado terminal. O luto, nesse caso, não se dá apenas em relação a morte, mas é visto como um processo necessário e fundamental para preencher o vazio deixado por qualquer perda significativa: viagem, emprego, ideias, objetos, etc.

As cinco fases são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Para um entendimento divertido, acompanhe o vídeo abaixo:


Pode-se facilmente identificar essas 5 fases nos militantes do PT ao longo de todo o processo de prisão do Lula, desde o momento em que o mandado de prisão de Lula foi expedido por Moro. A Negação, para não dizer incredulidade, acompanhou todas as etapas do julgamento de Lula: sua "militância", além dele mesmo, sempre duvidou de que ele pudesse ser julgado, de que seus recursos pudessem ser recusados, e duvidavam também que pudesse ser preso. No entanto, essa realidade chegou.

Ao ser expedida a ordem de prisão, seguidores anunciaram à imprensa que não iriam "esperar passivamente". Surgiram ameaças de que se formaria um "cordão humano" em volta do sindicato, de que se promoveria uma guerra, de que seria acionado o chamado "exército de Stéllide"... mas além do exagero óbvio, as bravatas revelavam mais um estágio se aproximando: era a Raiva, que agora ocupava o lugar da Negação.

A seguir, repórteres noticiaram que os advogados de Lula estavam negociando com a Polícia Federal os termos de sua rendição. Ficou combinado que ele se entregaria no dia seguinte, após uma missa em homenagem a sua esposa e a realização de um discurso. Depois disso, Lula seria levado até o aeroporto, dentro de uma viatura descaracterizada. Era a fase da Barganha entrando em cena.

Aparentemente não houve um estágio de Depressão ali, mas a fase final, da Aceitação, era fundamental. Somente após essa fase os militantes poderiam abandonar seu comportamento de resistência e permitir a atuação da Polícia Federal. Para isso, o discurso de Lula, muito criticado por alguns, desempenhou um papel importante. Apesar de toda a costumeira demagogia política - fez-se uma patética tentativa de imitação do discurso de Martin Luther King, e uma evocação canastrona ao filme V, de Vingança, mas deixemos isso de lado -, seu discurso assumiu ares de conformação e despedida. O tom era nostálgico, com referências a sua longínqua trajetória como líder sindicalista. Predominaram verbos conjugados no passado e, por fim, veio o anúncio de que se entregaria. Mas sua prisão não foi anunciada como uma derrota ou confissão de culpa, ao contrário. Nas suas palavras, seria um modo de mostrar que não tinha medo; de evitar fugir e esconder-se;de "enfrentá-los" e de lutar pela "democracia".

Com essas palavras, veio a ressignificação que faltava. Trata-se de um processo da neurolinguística, que permite às pessoas atribuírem novos significados a acontecimentos, mudando sua percepção de mundo. A temida prisão, que há pouco significava a morte no inconsciente coletivo dos militantes presentes, agora significava a vida, a continuidade e a luta. Não se tratava mais de medo, mas de coragem. O Lula não iria desaparecer pois, no seu lugar, surgiriam milhares de Lulas, na forma dos seus seguidores. A Aceitação pôde, por fim, encontrar seu espaço.

O elemento-chave era o tempo, pois era preciso aguardar que as mensagens surtissem seu efeito. Ao término do discurso, Lula se recolheu ao prédio do sindicato, e ali ele aguardou. A multidão devia fazer o seu papel e se dispersar. Por isso, mesmo o prazo de 24 horas dado por Moro, que muitos julgaram ser uma regalia que dava ao Lula o "controle da situação", foi crucial para deixar agir o efeito dramático. Tanto é assim que, momentos depois do discurso, grande parte da multidão realmente se afastou. A necessidade de expressar a insatisfação fora satisfeita. E embora ainda tenham restado manifestantes, os últimos fanáticos do culto a Lula ansiosos para auto imolar-se no altar do seu ídolo, sua saída foi imensamente facilitada por todo o trabalho previamente aplicado.

Posso estar enganado, mas acredito que tenha havido o dedo de psicólogos ou dos negociadores da Polícia Federal nesse discurso, e somente o Lula poderia fazê-lo. Portanto, onde alguns viram negligência ou falta de planejamento, eu percebo uma grande e importante elaboração. Graças a ela, a justiça hoje pôde ser cumprida sem que as centenas de pessoas que foram lá para se machucar, tivessem que realmente ser machucadas pra isso. É um importante feito para o nosso país, ainda tão desacostumado a ver o cumprimento da justiça, porém tão acostumado a assistir cenas de violência. Que este possa ser o início de um novo caminho para nós, nesses tempos dolorosos, mas que, com o despontar de cada vitória, enfim atravessamos.


segunda-feira, 27 de março de 2017

A terceirização e os Guardiões da Galáxia


Vivemos um momento político de apocalipses cíclicos: a cada 3, 4 meses um nova catástrofe surge para nos assombrar. Começou com o impeachment, em setembro. Desde então, e em clima de temor e luto, diferentes grupos conquistaram espaço na mídia para veicular suas mensagens contra o impeachment, sempre transmitindo uma expectativa de desolação caso este fosse aprovado. Porém o impeachment passou, e... nada sucedeu! Ora, erro nos cálculos? Não. O fim do mundo fora adiado, e... Só. Bem, que decepção...

Mas, como diria o guaxinim Rocket, em Guardiões da Galáxia, "life never disapoints me...", e este ainda não era o fim, ou pelo menos, não era o fim do fim do mundo. Pois logo em seguida, veio a votação da PEC 241. Os nossos infalíveis heróis, castrofistas de plantão, desamparados por esse incógnito mundo pós-impeachment (com o qual eles não contavam e que ainda apenas começavam a compreender) tiveram então seu ânimo renovado. Vieram as paralisações (protestar em feriado não tem graça), abaixo-assinados, correntes de email e whatsapp, ocupações de escolas, passeatas e, claro, o mesmo espírito de "fim do mundo", já havíamos nos familiarizado. Eu não estaria errado em suspeitar que a frustração dos contra-impeachment encontrou ali o seu melhor esforço compensatório. Quanta emoção! Uma nova motivação brilhava no horizonte.Pois dessa vez, caso o projeto fosse aprovado, o mundo acabaria, com certeza! Os órfãos do fim do mundo estavam, enfim, a salvo.

Então o mundo deve ter acabado novamente porque a PEC 241 foi aprovada (com boa folga). E ora, vejam só, o mundo nem acabou. Afinal de contas, é um mundo bem teimoso. Não obstante as listas de X motivos porque a instituição (cooptada) Y era contra a PEC, prevendo dentre os colapsos básicos, o desmonte da educação pública, retrocesso de direitos, precarização dos serviços, etc. E, claro, sempre presente esse sentimento, não muito bem definido, de ameaça que paira no ar, como se o mundo estivesse prestes a sofrer uma inversão da ordem natural e sagrada das coisas. Mas, agora, silêncio. A tal da PEC jaz esquecida e abandonada. A última menção que vi na internet foi de dezembro de 2016.

Cruzamos agora um novo ciclo. Com a aprovação da lei da Terceiricação, renovaram-se as passeatas, paralisações, correntes, etc, etc, etc, mas, mais uma vez  o apocalipse final aparenta se aproximar (frustrando assim a Camila Pitanga). Mas ele continuará vindo, como bem sabe todo fã de filmes de super-heróis. Os "vilões" continuarão chegando, ciclicamente, à medida que os anteriores forem derrotados, cada vez mais fortes, com novos poderes ou uma nova arma mirabolante. Estão ainda por vir a votação da reforma da previdência, a reforma política, as infinitas fases da operação Lava Jato (Guerra Infinita). Sem elas, como os nossos heróis, já não tão infalíveis..., os nossos falíveis heróis, poderiam manifestar seus portentosos feitos? Ora, o que seria da Camila Pitanga e seus vídeos no youtube? O que seria deles sem a sua capacidade de manter as pessoas nesse eterno clima de suspense, inculcado e sedimentado no coletivo, do qual esperam tanto colher frutos no futuro? Estes são quadrinhos orwellianos...

Nessas horas amargas, sinto-me verdadeiramente um sobrevivente, nessa sempre inovadora saga, cujo roteiro deve desafiar até o melhor roteirista de histórias em quadrinhos. Mas os quadrinistas não me previram também: portador de alguma bênção outrora reservada somente aos heróis gregos, protegidos pelos deuses; um sobrevivente incólume de todos esses pavorosos acidentes cataclísmicos (como adoro essas palavras). Eu devo ser Thanos!


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Crianças que levam palmadas são mais bem-sucedidas na vida, aponta estudo

O trabalho sugere que crianças que são punidas com palmadas por seus pais podem crescer mais felizes e bem sucedidas do que aquelas que são poupadas dos castigos físicos.



Um estudo descobriu que crianças recebem palmadas acima dos seis anos de idade saem-se melhor na escola e são mais otimistas sobre a vida do que as que não recebem. Elas também demonstraram maior inclinação para realizar trabalhos voluntários ou entrar na universidade.

A pesquisa, conduzida nos Estados Unidos, deve irritar militantes dos direitos infantis, que têm tentado, sem sucesso, banir as palmadas da Grã-Bretanha. Atualmente, os pais são autorizados por lei a ministrar "castigos razoáveis", como palmadas que não deixem marcas ou hematomas. Mas defensores dos direitos das crianças argumentam que essa é uma forma ultrapassada de punição, que pode causar problemas de saúde mental a longo prazo.

Os pesquisadores entrevistaram 179 adolescentes a respeito da frequência com que recebiam palmadas na infância, e que idade tinham quando as receberam pela última vez. Os dados foram cruzados então com a informação dada por eles sobre que comportamentos poderiam ter sido influenciados pelas palmadas, inclusive eventuais efeitos negativos, tais como comportamento antissocial, atividade sexual precoce, violência e depressão, e positivos, como sucesso acadêmico e autorrealização.

Aqueles que haviam recebido as palmadas acima dos seis anos se saíram melhor em quase todos os pontos positivos e não apresentaram nenhum ponto negativo, em contradição com aqueles que nunca haviam sido punidos fisicamente. Os que afirmaram terem sido castigados na faixa etária dos 7 aos 11 anos também demonstraram ser mais bem sucedidos na escola do que os não castigados, mas saíram-se pior em alguns pontos negativos, tais como mais envolvimento em brigas.

No entanto, jovens que afirmaram continuar recebendo castigos corporais pontuaram pior do que todos os outros grupos em todas as categorias. A pesquisa apontou pouca diferença entre os sexos e grupos raciais. Os estudos foram rejeitados pela Sociedade Nacional de Prevenção à Crueldade com as Crianças, que tem lutado para banir as palmadas, apontando para os efeitos danosos dessa prática.

Para o grupo Parents Outloud a pesquisa é bem-vinda e alegam que os pais não devem ser criminalizados por dar palmadas leves. Sua porta-voz, Margaret Morrissey, disse: "é muito difícil explicar verbalmente a uma criança o por que de alguma coisa ser errada. Um tapa leve é frequentemente a forma mais eficaz de ensiná-los a não fazer algo que é perigoso ou doloroso para outras pessoas - é uma medida preventiva. Ao passo que qualquer coisa maior que um tapinha leve é definitivamente errado, aos pais deve ser permitida a liberdade de disciplinar seus filhos sem o medo de serem denunciados à polícia".

Para ler o artigo original, clique aqui.


terça-feira, 20 de dezembro de 2016

A ditadura da mídia - Parte 2


Nossa necessidade diária de estar atualizado pelas últimas notícias é que, juntamente com elas, absorvemos também certos padrões de pensamento que passam despercebidos. Para fazer valer suas asserções e manter o leitor sempre interessado, os jornais utilizam estratégias sutis e manipulativas que podem até mesmo distorcer os fatos e comprometer nossa capacidade de avaliar a realidade. Parece exagero? Não é.
Um exemplo mais recente é o modo como é apresentada a imagem do presidente Michel Temer na maioria dos jornais: um ar sonolento e dúbio, que chega a aparentar não estar bem de saúde. Da mesma forma acontece com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, sempre selecionado nas piores poses possíveis.
Mas o mais danoso para os consumidores da notícia é, sem sombra de dúvida, o mau raciocínio empregado na elaboração do seu conteúdo. Os terapeutas comportamentais apresentam algumas classes de pensamento distorcido, e estas podem ser facilmente identificados nas notícias nacionais e internacionais em função do partidarismo dos nossos veículos de comunicação. Vejamos os mais danosos deles:

1. Catastrofismo

O catastrofismo é um padrão de pensamento distorcido que consiste em fazer com que um pequeno aspecto negativo de um fato tome proporções exageradas, levando a imaginação a todos os tipos de resultados desastrosos que podem advir deste episódio. Esse tipo de pensamento esteve muito presente nas notícias que acompanharam o processo de impeachment da então presidente Dilma Roussef.


Nessa época, jornais tentavam amedrontar a opinião pública com a possibilidade de fim da democracia ou da estabilidade do país. O mesmo acontece agora com a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos. Para quem procura se manter atualizado somente através da imprensa americana, Donald Trump é um racista, comparável a Adolf Hitler, cuja eleição ameaça destruir a democracia americana, arrasar a economia e, eventualmente, provocar a III Guerra Mundial. Sem citar qualquer evidência para essas afirmações, a mídia joga com a mente do leitor livremente, sem responsabilizar-se pelas consequências. Obviamente, à luz da história e do tempo presente, podemos perceber que tais fatos não se concretizaram.


Nesse rumo, considero que o papel das mídias atuais tem sido desempenhado de forma cada vez mais abusiva e agressiva, contribuindo muito para o clima de desânimo geral que em nada contribui para a superação das atuais crises.


domingo, 18 de dezembro de 2016

A ditadura da mídia - Parte 1



Em outra postagem falei sobre A Era das Reações Midiáticas e sobre as mudanças de comportamento proporcionadas pelo nosso contato com os meios de comunicação, que mais do que cumprir com o papel de nos manter informados e atualizados, impõem uma cultura e um estilo. Transplantada para a nossa vida pessoal, essa cultura resulta na desnaturalização e despersonalização do comportamento individual.

Um outro aspecto disso é a mídia utilizada como critério de aceitação para as nossas transformações sociais. Política, economia, cultura: todo fato novo precisa passar pelo crivo do jornal A ou B para, a partir de então, contar com nossa aceitação ou repúdio. A mídia agora é vista como arauto indispensável, norteador das nossas opiniões, sem o qual nos vemos perdidos e desnorteados num mundo em constante transformações. 

Subestimou-se, no entanto, o seu potencial para a manipulação da verdade. Apesar da maioria dos movimentos de esquerda denunciarem constantemente os diferentes grupos de interesse envolvidos por trás desta ou daquela emissora, os críticos falham em construir uma análise crítica sólida, segundo a qual o comportamento da mídia possa ser avaliado antes de suas informações serem absorvidas. Por esse motivo, considero que o atual estado de coisas é caótico.

Mais do que preocupar-se com manipular histórias e reportagens para beneficiar grupos empresariais e políticos, o que parece ter sido a tendência da mídia até aqui, seja a brasileira ou americana, é alimentar-se de um sentimento de desesperança que parece favorecer suas vendas e sua audiência. Para o cidadão que hoje procura se manter informado, não há como fugir de um sentimento de esquizofrenia, impulsionado pelo tom histérico e alarmista dos meios de comunicação. Com seus altos brados, arranjos poéticos, suas meditações e inspirações, os jornalistas gritam um irrecusável "Leiam-me! Leiam-me! Leiam-me!", irresistível pela veracidade dos fatos, pela popularidade dos seus autores, pelo número de seguidores em suas páginas do youtube e pela cidadania do ato de informar-se. "Quê? Como você não vai me ler? Como pode renunciar à cidadania inalienável contida no ato de informar-se?"

Joyce Hasselman e Reinaldo Azevedo: expoentes do jornalismo histérico e estridente
No presente momento, eu não depositaria nos meios de comunicação a fé que muitos andam depositando. A opinião comum certamente sabe questionar a integridade da Globo, da Veja e outros (quando bem lhe apraz), mas não pelos motivos corretos. Seduz-se facilmente pelos apelos e afagos de ego que o fazem crer muito mais inteligente e capaz do que realmente é, para discernir entre aquilo que é fato jornalístico e o seu interesse próprio.