segunda-feira, 27 de março de 2017

A terceirização e os Guardiões da Galáxia


Vivemos um momento político de apocalipses cíclicos: a cada 3, 4 meses um nova catástrofe surge para nos assombrar. Começou com o impeachment, em setembro. Desde então, e em clima de temor e luto, diferentes grupos conquistaram espaço na mídia para veicular suas mensagens contra o impeachment, sempre transmitindo uma expectativa de desolação caso este fosse aprovado. Porém o impeachment passou, e... nada sucedeu! Ora, erro nos cálculos? Não. O fim do mundo fora adiado, e... Só. Bem, que decepção...

Mas, como diria o guaxinim Rocket, em Guardiões da Galáxia, "life never disapoints me...", e este ainda não era o fim, ou pelo menos, não era o fim do fim do mundo. Pois logo em seguida, veio a votação da PEC 241. Os nossos infalíveis heróis, castrofistas de plantão, desamparados por esse incógnito mundo pós-impeachment (com o qual eles não contavam e que ainda apenas começavam a compreender) tiveram então seu ânimo renovado. Vieram as paralisações (protestar em feriado não tem graça), abaixo-assinados, correntes de email e whatsapp, ocupações de escolas, passeatas e, claro, o mesmo espírito de "fim do mundo", já havíamos nos familiarizado. Eu não estaria errado em suspeitar que a frustração dos contra-impeachment encontrou ali o seu melhor esforço compensatório. Quanta emoção! Uma nova motivação brilhava no horizonte.Pois dessa vez, caso o projeto fosse aprovado, o mundo acabaria, com certeza! Os órfãos do fim do mundo estavam, enfim, a salvo.

Então o mundo deve ter acabado novamente porque a PEC 241 foi aprovada (com boa folga). E ora, vejam só, o mundo nem acabou. Afinal de contas, é um mundo bem teimoso. Não obstante as listas de X motivos porque a instituição (cooptada) Y era contra a PEC, prevendo dentre os colapsos básicos, o desmonte da educação pública, retrocesso de direitos, precarização dos serviços, etc. E, claro, sempre presente esse sentimento, não muito bem definido, de ameaça que paira no ar, como se o mundo estivesse prestes a sofrer uma inversão da ordem natural e sagrada das coisas. Mas, agora, silêncio. A tal da PEC jaz esquecida e abandonada. A última menção que vi na internet foi de dezembro de 2016.

Cruzamos agora um novo ciclo. Com a aprovação da lei da Terceiricação, renovaram-se as passeatas, paralisações, correntes, etc, etc, etc, mas, mais uma vez  o apocalipse final aparenta se aproximar (frustrando assim a Camila Pitanga). Mas ele continuará vindo, como bem sabe todo fã de filmes de super-heróis. Os "vilões" continuarão chegando, ciclicamente, à medida que os anteriores forem derrotados, cada vez mais fortes, com novos poderes ou uma nova arma mirabolante. Estão ainda por vir a votação da reforma da previdência, a reforma política, as infinitas fases da operação Lava Jato (Guerra Infinita). Sem elas, como os nossos heróis, já não tão infalíveis..., os nossos falíveis heróis, poderiam manifestar seus portentosos feitos? Ora, o que seria da Camila Pitanga e seus vídeos no youtube? O que seria deles sem a sua capacidade de manter as pessoas nesse eterno clima de suspense, inculcado e sedimentado no coletivo, do qual esperam tanto colher frutos no futuro? Estes são quadrinhos orwellianos...

Nessas horas amargas, sinto-me verdadeiramente um sobrevivente, nessa sempre inovadora saga, cujo roteiro deve desafiar até o melhor roteirista de histórias em quadrinhos. Mas os quadrinistas não me previram também: portador de alguma bênção outrora reservada somente aos heróis gregos, protegidos pelos deuses; um sobrevivente incólume de todos esses pavorosos acidentes cataclísmicos (como adoro essas palavras). Eu devo ser Thanos!


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