sábado, 30 de julho de 2016

Os gulags venezuelanos e a atualidade de Ayn Rand



O período após a II Guerra Mundial foi realmente prolífico em obras que tentaram educar as futuras gerações dos riscos dos regimes totalitários. Com a Alemanha, Itália e Japão derrotados, o nazismo, o fascismo e a ideologia ultranacionalista ficaram marcadas como regimes totalitários esgotados, que não mais competiam com a democracia ocidental como alternativa de organização da sociedade. Sobrava, entretanto, o socialismo.

Nessa smana, a Venezuela, maior ostentador do discurso socialista na América Latina, foi divulgada a lei que condena os cidadãos a trabalhos forçados. Com a atual crise, que consegue piorar a cada dia com níveis igualmente proporcionais de assumbro, é o caso de nos perguntarmos como foi possível que a situação chegasse a esse ponto. E no Brasil? Qual o risco que corremos?

Diversos autores soltaram sua imaginação para esboçar como seria a Civilização Ocidental sob um regime totalitário. George Orwell foi um dos mais importantes. Com seu romance 1984, ressaltou a vigilância e o asfixiante controle dos regimes totalitários. Construiu os conceitos de duplipensar, ou dissonância cognitiva; acreditar genuinamente nas mentiras contadas para si mesmo, relativizando a realidade até a mais profunda hipnose e soterrando no inconsciente todas as verdades desagradáveis. A novilíngua, condensação das palavras, remoção de seus significados, era outro desses instrumntos de controle das pessoas e dos seus pensamentos. Outra de suas obras, A Revolução dos Bichos, explicita as traiçoeiras e corruptas relações dos seus personagens animais para demolir a falácia do "paraíso comunista" proposto pela Rússia de Stálin.

Vinda de um período anterior, Admirável Mundo Novo, publicado em 1932, mas ainda relacionado à temática totalitária, explorou as possibilidades de controle social na esfera biológica e psicológica.

E como não lembrar de V de Vingança, de Alan Moore, publicada em forma de história em quadrinhos e adaptada posteriormente para o cinema pelas mãos dos lendários Irmãos Watchowsky, popularizaram a máscara de Guy Fawkes, que seria posteriormente utilizada como símbolo de diferentes tipos de movimentos contra o governo, tal como o Anonymous. Podemos dizer que seja um ícone da desobediência civil moderna.


Mas para o momento atual, prefiro mencionar aqui a obra de Ayn Rand, A Revolta de Atlas, de 1957, menos comentada do que seus pares. Menos focado na opressão psicológica dos regimes socialistas, boa parte do livro descreve o aspecto burocrático do seu funcionamento, a reação em cadeia das decisões que antecedem o estágio final do totalitarismo e alguns conceitos filosóficos também úteis para perceber essa evolução. Uma das passagens do livro retrata precisamente a decretação de trabalhos forçados como ferramenta para contornar a crise, prevendo o decreto venezuelano com pelo menos 59 anos de antecedência.

"Em nome do bem-estar público, para proteger a segurança do povo, atingir a completa igualdade e total estabilidade, fica decretado que todos os trabalhadores ficarão doravante em seus empregos, não podendo pedir demissão, nem ser demitidos, nem trocar de emprego, sob pena de detenção." - A Revolta de Atlas


Em tempos em que a democracia fraqueja entre nós, e regimes de partidos internos e governos vizinhos começam a simpatizar com a causa totalitária, ali, desapercebidamente, convém voltar à leitura desses clássicos. É preciso manter essa tradição de pensamento para fazer frente a essa tendência, que jamais desaparece, mas ocorre apenas de se retrair, voltando de tempos em tempos.


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