sexta-feira, 24 de junho de 2016

O estranho e misterioso caso das evangélicas gostosas que não comem canjica



Sabe, existem certas coisas com as quais nos deparamos na vida que desde o momento em que batemos o olho sabemos não se tratar de um caso fortuito, de uma peripécia da natureza, ou de um deslize acidental. 'Au contraire', tomamos imediatamente consciência de que aquilo corresponde a um padrão mais amplo, que torna o fato repetitivo e que nos permite fazer uma leitura precisa do seu perfil aberrante. Pois eu encontrei um exemplo perturbador desse tipo de nicho: o das evangélicas gostosas que não comem canjica.

Funciona da seguinte forma: as meninas são crentes. Elas, em tese, se vestem com um certo ar de recato, para não tentar os olhares masculinos e para ocultar o que puder da sua própria libido. Claro, o contraste entre o desprendimento pretendido e o volume de horas que gastam nisso já revela uma vaidade não muito bem escondida, mas o problema mais divertido é perceber como elas fracassam completamente nesse objetivo, o de não ficarem gostosas: pois os vestidos, originalmente pensados para cobrir e esconder suas pernas, acabam ficando deliciosamente ajustados ao contorno de suas formas bem torneadas, deixando transparecer os vincos de suas peças íntimas e dando uma maravilhosa sensação de transparência que acaba, por fim, servindo um verdadeiro banquete para os olhos, que se fartam.

Como passatempo, uma dessas meninas “folheia” páginas do facebook com um tema que eu só poderia classificar como “homens musculosos tatuados e seminus”. Ali, inadvertidamente, eu percebo a página que ela está vendo. Ela percebe que eu percebi e muda de página imediatamente. Mas notem, ela percebe o meu mínimo movimento ocular utilizado no processo, projetado e treinado intencionalmente para não deixar perceberem a minha bisbilhotice. Ela é super conscienciosa de quem a observa. Você pode se perguntar “mas você estava ali do lado, ela não imaginou que você fosse perceber?”. Creio eu que sim, mas sabe, acho que a explicação mais simples para isso é que ela não conseguia se conter.

Outra fonte de diversão favorita dela era assistir vídeos de extrações de dente no youtube. Dizia ter vocação para a odontologia. Talvez até tivesse. Mas, na prática, eu duvido que aquilo fosse para satisfazer qualquer exercício vocacional diferente do de possuir uma completa falta de empatia e uma sensibilidade egoísta e embrutecida.

Ela é também uma superprotetora do seu ego: torna-se agressiva diante da menor manifestação de crítica. Não se deixa penetrar por qualquer exame de suas posições, de suas contradições. Não deixa nem por um segundo que a erva daninha da autocrítica lance suas raízes no concreto da sua autoestima, porque senão ela se parte. Receia ser condenada por qualquer julgamento, e ser aprovada neles é a sua meta pessoal. Se considera acima deles, um caso à parte, que não precisa dar satisfações. Às suas vítimas ela concede um gélido tratamento misto de silêncio e indiferença.

Mas no final de tudo isso, sabe o que eu descobri? Pois eu lhe digo: eu lhe digo que a infeliz não podia comer uma canjica. A desgraçada não podia comer uma droga de uma pamonha; nem sequer chegar perto de uma espiga de milho verde, nem pensar, ou realizar qualquer ato que em tese significasse uma celebração do São João. É isso mesmo. De tudo ela pode um pouco, mas comemorar o São João, não. Ela diz que é contra a sua religião. Simples assim.

Pois é, mas sabe, esse texto passa longe de ser uma condenação moral, porque eu sou pouquíssimo interessado nisso. Condenações morais são banais. Na verdade, até dou risada, mas me exaspera sempre estar diante de qualquer pessoa que é em si mesma uma contradição caótica e total em tudo o que faz, independentemente do aspecto da vida que seja, seja na religião ou não. Porque isso me dá uma sensação de hospício dos diabos.

Para fugir disso, nessas horas recorro a uma tentativa de encontrar um sentido, e eu geralmente encontro, e nesse caso passou a ser o seguinte: a religião, utilizada por essas pessoas, perdeu qualquer semelhança com o seu significado essencial (numa leitura secular), que era o do exercício de uma dureza para consigo mesmo, uma conformação da conduta para um determinado modelo de sociedade e para o aprimoramento pessoal. Nessas mãos, ela se torna um simples instrumento de pré-julgamento dos outros, baseado unicamente no pertencimento a um grupo religioso tido por privilegiado: o privilégio autoconcedido para poder ser indolente.



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