quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Banda do mês - Crippled Black Phoenix - "Use sua raiva de forma criativa para destruir seus opressores"

Banda do Reino Unido mostra uma revolução em estilo e em valores musicais



Fala galera, no post relacionado a música desse mês daremos destaque a essa banda que é sensacional, mas ainda pouco conhecida por aqui: Crippled Black Phoenix, a Fênix Negra Aleijada. Achou o nome complicado?

O grupo teve origem no Reino Unido, centrado na figura do multi instrumentista Justin Greaves, e também teve a colaboração de diversos artistas nos seus álbuns, que fazem participações especiais em seus shows. O nome da banda tem origem na letra da canção Big Loader, música do Álbum de estréia da antiga banda de Greaves, Iron Monkey. O grupo surgiu a partir de 2004, quando Greaves começou a gravar canções que já tinha em mente há anos, mas que não se encaixavam em seus projetos musicais de então. Nesse projeto, Greaves foi encorajado por Dominic Aitchison, que se tornaria o baixista da banda.

Justin Greaves
Seu estilo musical também parece ser tão inusitado quanto seu surgimento. A banda compõe músicas que costuma chamar de "baladas dos fins dos tempos", que carregam consigo algo de levemente sombrio e macabro, além de uma mistura inusitada de estilos conforme a música evolui. O aspecto progressivo do seu estilo está ligado a influências de bandas como o Pink Floyd, perceptível nos vocais de Daniel Änghede, que lembram bastante a voz de David Gilmour. O efeito da guitarra em músicas como The Heart of Every Country também traz muito da guitarra de Waters em clássicos do rock como Echoes e Shine on You Crazy Diamond. Na parte dos vocais também há uma importante participação feminina, com Daisy Chapman, que se faz presente tanto nas músicas que exigem participações mais robustas, como Get Down and Live With It, como naquelas que pedem uma participação mais discreta, a exemplo de Operation Mincemeat. Sua participação tanto nos vocais quanto no piano dá mostras de sua versatilidade e revela o nível de sensibilidade do grupo como um todo, que nada deixa a dever a seus inspiradores.

Rise Up and Fight - Crippled Black Phoenix

À parte isso, a banda tem se concentrado nos shows ao vivo, estando em turnê pela Europa já desde o ano passado. Também tem destaque a preferência pela apresentação em locais incomuns e a grande habilidade em mesclar o uso de instrumentos da era vitoriana com equipamentos modernos.

Outra característica marcante, que não lembro de ter visto de forma tão intensa em outras bandas, é a abordagem temática das letras, que falam muito de episódios da II Guerra Mundial. Bastogne Blues, centrada sobre o cerco americano à cidade Belga de Bastogne, inicia com o depoimento real de um veterano de guerra, que viu-se obrigado a atirar num soldado alemão às portas da cidade. Desde então, o trágico acontecimento provocou-lhe um trauma que o acompanhou por toda sua vida. Seu relato na introdução, ao som de uma ventania e efeitos musicais psicodélicos ao fundo, é absurdamente tenso.

Bastogne Blues - Crippled Black Phoenix


Daisy Chapman
Em entrevista a um canal de TV Austríaco, Greaves declarou que os álbuns estão repletos de mensagens que tratam do lado bom e ruim das coisas, mas que, assim como na vida, as coisas ruins estão mais evidentes, enquanto que as boas precisam ser descobertas

Embora as classificações de suas músicas como "pós-rock" ou "baladas dos fins dos tempos" traga um certo ar de pessimismo, Greaves afirma que essa denominação também surge da insuficiência das definições atuais sobre o gênero: "não nos achamos parecidos com 'isso' e nem com 'aquilo' então nos demos nossa própria denominação"

O músico admite flertar com o clima de pessimismo e complacência que sente na Inglaterra e em parte da Europa. Mesmo assim, Greaves evita a politização, "não sou como o Bono" (do U2), afirma, pois acredita que toda banda que se politiza acaba virando instrumento de alguma outra coisa. "As pessoas têm o poder da mudança, mas a música em si não vai mudar nada. Tudo o que podemos fazer é escrever músicas que falem sobre as injustiças e que apoiem alguma coisa, mas que seja sua visão pessoal e a nível pessoal, para mostrar apreço pelas pessoas que estão perto de você, pelo que elas fazem e poder apoiá-las nisso".

As artes de capa dos álbuns são um espetáculo a mais, cada uma ricamente trabalhada e ilustrada, repletas de um clima que reforça aquele de suas canções: um pouco de perigo, de sombrio, ou de uma jornada perigosa, como a capa do álbum No Sadness or Farewell. Nela, um viajante é visto de costas, seguindo em direção a um fundo negro, numa jornada rumo ao desconhecido, talvez ao pessimismo ou à liberdade, mas deixando-se levar, na certeza de não perder nada da sua própria aventura.

No Sadness or Farewell - Capa

O Crippled Black Phoenix não é uma banda que procura holofotes. Essa é a filosofia do grupo, que se baseia na própria filosofia pessoal de Greaves: "Minha medida da felicidade é o sucesso. Se você é feliz pode pagar suas contas, não precisa de fama, dinheiro ou cosa do tipo... essas coisas alteram nossas perspectivas". Assim fala o líder de uma das bandas de sonoridade mais potente da atualidade, num discurso que destoa muito do apelo por publicidade e mercado que é quase universal no nosso atual cenário da música, repleto de artistas rasos e supérfluos, não obstante o que apresentam de pomposo e extravagante. Tanto nas suas canções quanto nas entrevistas, Greaves possui a habilidade de, em poucas palavas, expor todo o seu talento, sua criatividade e seus valores.

Até o próximo post.

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